Expectativa é de mudanças na condução da política econômica.
Especialistas fazem uma projeção da economia do país.
18/04/2016 – G1
Mesmo antes do Senado decidir pelo afastamento ou não da presidente Dilma Rousseff, os representantes de vários setores da economia já acreditam em mudanças. O Jornal Hoje conversou com alguns desses representantes logo depois da votação deste domingo (18).
Mesmo com o jogo em andamento, o mercado financeiro vê o futuro do país com mais otimismo, depois que a Câmara aceitou abrir o processo de impeachment da presidente Dilma.
“Entendemos que haverá uma injeção de ânimo na economia e o mercado de capitais é o primeiro a reagir a essas notícias”, fala o diretor da Ancord, Guilherme Marconi.
A expectativa é de mudanças na condução da política econômica. “Aproveitar esse benefício da dúvida, quer dizer, esse aumento de confiança que a gente provavelmente vai ter agora. Para avançar reformas que são reformas, difíceis, reformas, muitas delas impopulares, quer dizer, criar, aproveitar esse momento positivo para discutir uma agenda de longo prazo para o país”, diz o economista e diretor LCA Consultores, Celso Toledo.
Os setores da economia real também receberam bem a notícia. No ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu quase 4%. O pior resultado em 26 anos. As vendas no varejo caíram 4,3%.
“Nós poderemos ter uma volta um pouco mais acelerada ao consumo”, conta Abram Szajman, presidente da Fecomercio.
Ninguém acredita numa melhora imediata. Os números são muito ruins. Economia em recessão, inflação alta, e desemprego crescendo. Segundo o último levantamento do IBGE, o Brasil tem 9,6 milhões de desempregados.
Para o Dieese, departamento criado por sindicatos para desenvolver pesquisas de interesse dos trabalhadores, será preciso um acordo político para recuperar o país.
“Recuperar a capacidade política de dar sentido ao nosso desenvolvimento econômico, que gere emprego, que gere atividade produtiva, que gere capacidade da economia, que deem a economia capacidade de sustentar o crescimento econômico”, fala Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.
Para o economista Bernard Appy, que foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda na gestão de Antônio Palocci, passada a euforia, Temer terá que conseguir apoio político e social para promover uma agenda de reformas em parte impopular. “Essa agenda, na verdade, inevitavelmente passa por rever a questão da Previdência Social, e inevitavelmente passa por rever a questão dos gastos de pessoal, de funcionários públicos que para os estados e municípios são o grande fator de pressão sobre as despesas; mas acho que é importante também ter uma agenda de produtividade”.
O cientista político Francisco Weffort, que se desligou do PT para ser ministro da Cultura de Fernando Henrique Cardoso, lembra que Temer terá que ter resposta para as crises econômica e política.
“Aparentemente, o país se dividiu. O novo governo terá que diminuir ao máximo essa divisão para aumentar, tanto quanto possível, as possibilidades de apoio”, explica Weffort.
Os próximos 30 dias serão um teste para a nossa democracia, segundo o cientista político Fernando Schüller. É preciso que o resultado seja aceito por todos.
“É um pacto de convivência democrática, de estabilização da economia, de estabilização política, que pode inclusive ter repercussões positivas na economia”.